Entro no carro olho pela janela e lá está ela.
Soberana, cheia de si, brilhando.
A noite é dela e só dela. Não dá confiança pra nenhuma estrelinha que ainda teime em brilhar.
O carro ganha velocidade, mas ela não sai da minha vista.
Às vezes fica meio por trás de umas raras nuvens.
Não pense que ela quer se esconder.
Ela não é tímida.
Ela só quer me provar que o brilho dela atravessa qualquer nunvenzinha besta que se meta no caminho.
O carro vira e a perco de vista por alguns minutos.
Mas a noite está clara. Há um brilho amarelado sobre a cidade que parece de brinquedo.
Ela é Deus, onipotente, onipresente, onisciente.
Ou, pelo menos, é isso quer ela quer que eu sinta. E eu sinto.
O carro faz mais uma curva e ela se mostra novamente.
Não como uma princesa que brilha. Ela não é delicada.
Ela quer ser notada, admirada.
É como a cantora de cabaré e seu batom vermelho puta.
Agora ela está sobre o mar. Ele mais parece um manto negro ondulando a vontade do vento.
Ele quase não aparece.
Passaria despercebido não fosse a faixa dourada que o divide em dois.
A faixa dourada colocada ali de propósito.
Para que todos olhem para cima e vejam a lua.
Por que essa noite é dela e só dela.