quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Porta-retratos.

Abriu a gaveta com toda calma, percorreu o seu conhecido conteúdo.
Incontáveis considerações de sua vida desfilavam em sua mente. Não, não fazia sentido algum apressar as coisas, aprendera que não importa o que aconteça, seu semblante deveria ser impassível e suas intenções um mistério.
Fechou a gaveta e olhou para frente, não para o rapaz sentado a sua frente, mas para o que seria dela em alguns dias quando descobrissem o que se passava.

-E então? O que tinha para me dizer?

Focou o rapaz novamente: realmente era belo. Nada demais, os traços de seu rosto simplesmente se ordenavam de modo agradável. Sua voz também ajudava, era grave e musical quando falava e seu sussurro era doce.

Ela olhou para a gaveta novamente, agora fechada, e esse movimento trouxe seus cabelos castanhos e pesados para frente do rosto de onde ela delicadamente o afastou prendendo-o atrás da orelha.
Apoiou-se na mesa e olhou nos olhos dele.
As palavras iam no meio da boca quando percebeu que não controlava bem a emoção e que se não se acalmasse a voz sairia embargada. E ela não poderia soar indecisa ou insatisfeita com a própria decisão. Sorriu de lado e perguntou se ele aceitaria um café.

Ele rejeitou o café e pediu que ela dissesse logo porque queria vê-lo.
Ele era impaciente, podia-se sentir o cheiro da curiosidade dele do corredor, ele era fácil de ser lido: simples e espontâneo, de uma sinceridade morna e confortável. Talvez fosse esse o seu encanto.

Ela sorriu de sua inquietação e sentou-se.
Olhou para a janela e disse: vou embora. Para Nova York.
Voltou-se para ele e prosseguiu: não queria que você soubesse por outra pessoa.
E esperou pacientemente que ele absorvesse a informação.

-Felipe, você não vai ficar chateado, vai?

Ele mordeu o lábio e se levantou em seguida.
-Patrícia, eu...
Abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas simplesmente sorriu e foi embora daquela sala gelada.

4 comentários:

Iasminne Fortes disse...

"aprendera que não importa o que aconteça, seu semblante deveria ser impassível e suas intenções um mistério."

Como conseguir se conter diante das situações com ar impassível?! É tão difícil...

Despedidas são tão desconsertantes, incertas e, algumas, cheias de surpresa. Terminei de ler seu texto e me deu um aperto no coração... acho que na partida já se sente saudade.
Adoro diálogos, Camis! Mesmo que curtinhos feito o seu no texto.

como faço pra seguir seu blog? Não vejo a opção 'seguir' no seu. =l

beijão, bela =)

Cynthia Osório disse...

Há momentos em que palavras não são insuficientes.

Yaas disse...

aaah D: como assim?
EU QUERO SABER O QUE HOUVE?
acho que é assim que as pessoas se sentem com os meus fins :x
agora a curiosidade que da pra sentir do corredor é a minha [cry
ta ótimo.
beeeijos :*

Camilla Mendes disse...

Você e seu 'dom de ser reticências'...o fim, de todas as formas será doloroso. Sempre. Mesmo quando a gente sorrir amarelo.